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As férias do Não

A coisa mais estranha de todas sucedeu no ano passado, quando o Não ameaçou deixar a cidade para sempre.
Ele era um sujeitinho, isto é, uma palavrinha pequena, mais decidida. Tinha o rosto fechado e antipático, sorria raramente. Estava sempre disposto a contrariar os homens, os bichos e as outras palavras.
A queixa do Não é que estava trabalhando demais. Andava de boca em boca o dia inteiro! Tinha que correr de um lado para outro como um relâmpago, sem tempo de tomar um cafezinho. Nas ruas, nas casas, nos jornais, nas tabuletas, era sempre a mesma coisa: Não, Não e Não!
Pois agora ele iria tirar férias e não contaria a ninguém o lugar que escolhera para descançar.
O chefe das palavras não gostou da idéia. O dicionário também não queria perdê-lo, pois uma palavra tão útil não poderia faltar em dicionário nenhum.
Mas, quem poderia dizer não ao Não?
As complicações começaram depressa.
Quando o vendedor ambulante tocava a campainha das casas, as senhoras já atendiam com um Não engatilhado. Não queriam comprar nada. Não mesmo.
Mas, neste dia, quando eles abriram a boca o Não não saía...
Só numa tarde, o homem vendeu setenta e cinco pentes, duzentos sabonetes e trinta dúzias de botões!
Para as crianças, também foi ótima a falta do Não. Elas entravam em casa correndo e gritavam de longe:
- Posso tomar banho com o cachorro?
Ou então:
- Vou pegar a escada para subir no telhado.
Ou ainda:
- Mamãe, guardei a tartaruga na sua gaveta.
As mães, atarantadas, não achando o Não para negar, não diziam nada! E como "quem cala consente", as crianças pulavam de alegria.
- Obaa! Mamãe deixou! Mamãe deixou!
Quanta confusão!
A cidade inteira comentava que o prefeito era uma bondade...
Imediatamente ele avisou o delegado e logo os soldados e os cães ensinados saíram á procura da palavrinha perdida.
O primeiro Não que encontraram pegaram pelas orelhas e levaram á força para a cidade...
Na manhã seguinte ele já estava trabalhando duro. Só o vendedor ambulante ouviu mais de cem vezes a palavra Não.

Maria Teresa Cuimarães Noronha

6 comentários:

  1. Adorei esse texto,perfeito e mágico ideal para todas as idades.......

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  2. Caramba...doces recordações, eu li esse texto quando eu estava na 4º serie,eu tinha 9 anos, hoje eu me encontro com 30 anos e não me esqueci dessa história...parabéns mesmo pela postagem!

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  3. Estava louca atras desse texto, eu o li quando eu era pirralhinha e hoje estou com quase 17, eu nunca vou esquecer desse belíssimo texto.

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  4. Nossa! Li esse texto tinha 10 anos e agora procurei pra ler pra meu filho. Ótimo

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  5. Muito obrigado por postar este texto! Eu o li quando estava na terceira série do ensino fundamenta, acho que eu tinha uns nove ou dez anos. Eu estava tendo aula de raciocínio lógico e me lembrei dessa peróla no momento em que o professor falava a bendita palavra "não.

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